A política como jogo de poder e de interesses
É comum esperar que as pessoas mais tecnicamente qualificadas, cheias de conhecimento e com anos de experiência, sejam as que conduzem a política. Contudo, nem sempre os melhores — os mais intelectuais, corretos e honestos — estão dispostos a assumir esse papel. Afinal, as pessoas buscam seus próprios interesses. Isso vale não apenas para a política, mas para diversas áreas da vida. Portanto, frequentemente, somos conduzidos a lidar com as pessoas "erradas" para realizar o trabalho.
Diferentemente de nós, políticos buscam aumentar sua influência e poder. Ao fazer crescer seus partidos, grupos ou departamentos, eles expandem sua capacidade de ação e perpetuam sua popularidade, dependendo de votos para alcançar seus objetivos. Mesmo que isso não se traduza diretamente em renda, como na criação de uma lei que os beneficie, o ganho em poder justifica tais esforços.
O principal objetivo dos políticos é conquistar votos para aumentar seu poder. Vivemos em um ambiente de concorrência por apoio eleitoral, e nossos interesses estão inevitavelmente entrelaçados ao jogo político. Esse jogo muitas vezes manipula nossos valores mais privados, incluindo a religião, para obter o lucrativo poder político.
Para Max Weber, a política é a luta pelo poder para controlar o Estado. Trata-se de um empreendimento ambicioso que resulta na dominação de alguns grupos sobre outros. Controlar os recursos do Estado equivale a deter um poder colossal, e muitas vezes são justamente as pessoas moralmente incapazes ou corruptas que conseguem acesso a ele. Em vez de destinar esses recursos ao bem-estar da população, como saúde e educação, acabam desviando-os para interesses próprios.
Milton Friedman observou que políticos são indivíduos interessados em um negócio lucrativo. Contrariando o que muitos apaixonados por esses personagens tentam acreditar — ou o que eles próprios transmitem em discursos e outdoors —, sua principal motivação não é salvar a nação, mas atender a seus próprios interesses.
Quando dinheiro e status social entram em jogo, as virtudes passam a ser ferramentas de autopromoção. Isso não ocorre apenas na política, mas em toda parte. Friedman argumenta que o desafio está em fazer com que as pessoas erradas e ambiciosas ajam de maneira correta, atendendo àquilo que mais desejam: influência. Projetos socialmente benéficos podem se tornar politicamente lucrativos, já que o retorno positivo eleva a popularidade e aumenta o poder.
A lógica econômica: como usar o interesse pessoal para beneficiar a sociedade
Assim, considerando que nem sempre temos as pessoas certas no poder — as mais honestas, brilhantes e qualificadas —, Friedman propõe uma abordagem econômica: tornar politicamente lucrativo que as pessoas erradas façam o certo.
Essa visão smithiana é uma forma prática de lidar com interesses privados, sem nos iludirmos com a falsa imagem de bondade que políticos tentam projetar. Eles não agem por altruísmo, mas por interesse próprio, buscando renda e influência como qualquer outro cidadão.
Em Capitalismo e Liberdade, Friedman alerta que políticos são homens de um tipo peculiar. Na perspectiva de Weber, eles estão envolvidos em uma luta por poder, enquanto Maquiavel, em O Príncipe, descreve o político como alguém frequentemente distante da moralidade tradicional.
O político moderno não é o homem grego idealizado, como observa Hannah Arendt, que lutava pelo bem da pólis. Ele é uma mistura de ideias acumuladas ao longo do tempo, transformadas em ferramentas manipulativas nas mãos de homens com comportamentos muitas vezes primitivos, porém adaptados às possibilidades de sua época. Com um perfil mandevilliano e profundamente egoísta, ele se assemelha a um "animal político", pronto para devorar outros homens.
É com esses homens que lidamos, e todas as armas sociais — como manipular descaradamente as necessidades básicas da população — estão à disposição deles. Eles sabem que a sociedade conserva valores importantes e se esforça pelo progresso. E é desse esforço que os políticos se aproveitam em benefício próprio.
Enquanto nós nos empenhamos para melhorar nossas vidas, eles utilizam nossos esforços como base para acumular riqueza, sustentar suas famílias e fortalecer seus interesses. Apesar de insistirem que trabalham por um futuro próspero para todos, a realidade é que uma parte significativa dos recursos arrecadados pelo Estado é desviada por criminosos e corruptos para fins pessoais.
Afinal, é o trabalho social coletivo que permite ao político acumular riqueza. Eles não criam progresso por altruísmo, mas pela capacidade de transformar nosso esforço em fonte de renda e influência para si mesmos.
Portanto, o que nos resta é lidar com pessoas movidas por interesses próprios, que acabam dominando o jogo político. Sabemos o que elas buscam — poder, influência, status — e é justamente isso que pode ser usado para conduzi-las. Não porque são as mais capazes ou ideais para a tarefa, mas porque sabemos que, quando se trata de ganhar votos ou obter benefícios pessoais, eles entendem exatamente como agir. Assim, devemos tornar politicamente lucrativo o suficiente para que, mesmo as pessoas erradas, façam o que se espera delas.
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