Escárnio Cadavérico


Um grupo de pessoas se reunia à meia-noite para discutir assuntos condizentes com seu caráter. Se não fosse algo peculiar, suas ações passariam despercebidas. Mas, sendo moralistas e defensores dos costumes e do sagrado, importava a repugnância de seus atos hostis, particularmente o desprezo do estado de morte de que zombavam.

Com um sorriso debochado, alguns diziam: "Sabem quem morreu ontem? Que morte lenta e dolorosa!" O prazer transparecia nas palavras. Com voz calma, olhar pesaroso e um gesto carismático, ela respondeu: "Sabe o que está acontecendo? A morte dele está perto." E, por dentro, seu espírito sorria, regozijando-se com a desgraça que presenciava.

Quem imaginaria aquela alma polida em um ato tão funesto? Sua língua, disfarçada sob vestidos comportados e um tom conservador, aparentava devoção, doce e respeitosa, enquanto sua voz calma afastava qualquer acusação. No entanto, a peçonha que ocultava era capaz de matar, observando a podridão corroendo a carne como se fosse um ato artístico.

Quando alguém lhe perguntava se conhecia o miserável morto, mentia. Negava, embora tivesse visto definhar as entranhas de perto, sentado no túmulo, onde observou as vísceras apodrecerem. Fingia desconhecer o escândalo, enquanto ria da desgraça com um gesto de covardia e desumanidade, zombando intimamente daquele estado em que o verme se lança no profundo abismo: "lugar para onde as coisas vão, para pagar as injustiças."

O escárnio atingia seu ápice quando, para proteger o ambiente político da religiosidade, algum inocente precisava servir de expiação. Seus traumas eram impostos em uma morte lenta, pois aquele lugar precisava estar protegido das críticas. Exaltados em desdém, um a um impunham-lhe dores, fixando os olhos nos seus, como se quisessem ver sua alma escorrer lentamente pela face.

Todos buscavam um sentimento de pertencimento, onde a maldade era justificada pela bondade. Estavam dispostos a zombar da putrefação humana, a suportar o mau cheiro e a enxurrada de moscas sobre os corpos que pisavam, tudo para desfrutar dos benefícios de uma vida apreciada pelos olhos alheios.

Não seria surpreendente ver tais atos de quem já se espera comportamentos vis. Contudo, naquele lugar, era o escárnio da autoridade, a blasfêmia da virtude disfarçada por um falso padrão de conduta. E é dali que se aguarda o início da punição, vinda pelas mãos da justiça.